A cidade de Cajamar, em São Paulo, ficou famosa no Brasil e no Exterior devido a abertura de uma cratera em agosto de 1986. Moradores do bairro do Lavrinha, em Cajamar, acordaram com um estrondo. Muitos foram para a rua tentar entender o que havia acontecido. Foi quando um morador registrou o surgimento de um buraco em seu quintal. O que parecia um buraco simples, logo se tornou uma cratera de cinco metros de diâmetro. Um mês depois, a mesma cratera já possuía 50 metros de diâmetro e 20 metros de profundidade. Centenas de famílias precisaram ser realocadas após ficarem desabrigadas e terem suas residências com danos estruturais. Um sobrado de dois andares acabou engolido pela cratera, mas o incidente não registrou vítimas. Um fenômeno jamais visto na época. Isso faz 38 anos.
Em um raio de 400 metros centenas de moradias sofreram trincamentos em suas estruturas. Nas semanas anteriores ao evento já havia sido relatado rebaixamento de piso nas casas, além de rachaduras em paredes, rompimento de tubulações da rede de fornecimento de água e ocorrência de ruídos. A população não sabia, mas o solo abaixo delas estava na iminência de ruir em pouco tempo.
Na busca pelas possíveis causas do evento, geólogos concluíram que se tratava do colapso de cavidades profundas dos calcários sobre os quais a região se localiza, dando origem a uma dolina que se desenvolveu sobre o manto intempérico da rocha. Esse colapso se deu devido ao rebaixamento do nível freático na região que foi favorecido pela estiagem e pela intensa extração das águas subterrâneas da área por meio de poços.
Esse acidente geológico teve muita repercussão na época por se tratar da primeira ocorrência desse tipo em uma área densamente ocupada e lançou um olhar sobre a preocupação com a utilização consciente das águas subterrâneas para o equilíbrio dos solos das áreas urbanas.
No “Buraco de Cajamar” ou “Dolina de Cajamar” a água subterrânea surgiu em seu fundo, ascendendo até 7 metros em fevereiro de 1987. À época, o Instituto de Pesquisa Tecnológica do Estado de São Paulo (IPT) foi acionado para tentar identificar a causa do problema e concluiu, com a ajuda de especialistas vindos dos Estados Unidos, que a região afetada ficava acima de uma caverna subterrânea.
As dolinas são grandes depressões que surgem no solo depois da dissolução de rochas que se encontram abaixo da superfície terrestre. O diâmetro e a profundidade de uma dolina pode variar de poucos metros a dezenas.
Especialistas analisando o subsolo da região de Cajamar chegaram à conclusão de que o solo era extremamente poroso com a existência de inúmeras cavernas subterrâneas todas cheias de água. A água exerce uma função muito importante no subsolo, equilibrando o peso da terra acima.
A região é formada por metarenitos, filitos, xistos e rochas carbonáticas resultantes de metamorfoses pertencentes ao grupo São Roque, de idade pré-cambriana superior. A própria origem do bairro Lavrinhas (pequenas lavras) liga-se a esse contexto geológico, tendo surgido no início do século XX em decorrência da exploração de pedreiras de calcário.
Com o progressivo crescimento das cidades e da ocupação física do território brasileiro por atividades próprias da agricultura, da mineração e da infraestrutura civil, e consideradas as numerosas expressões calcárias de nossas formações geológicas, tem-se multiplicado os problemas e os riscos associados à presença de estruturas e fenômenos cársticos.
O principal fenômeno cárstico de interesse da engenharia é o abatimento, brusco ou lento, de terrenos. Esses abatimentos, que podem destruir por completo edificações de superfície, colocando em risco patrimônios e vidas humanas, a fauna e flora, decorrentes do colapso de um teto de caverna, de contínua migração do solo de cobertura para o interior de vazios na interface solo/rocha ou na própria rocha calcária.
Tão mais prováveis serão os abatimentos quanto mais próximos da superfície estejam os vazios do maciço rochoso ou os vazios da zona de interface solo/rocha e do próprio horizonte de solos sobreposto à rocha sã.
Do ponto de vista ambiental os terrenos cársticos, pela possibilidade de franca e rápida comunicação entre águas superficiais e águas subterrâneas, obrigam um redobrado cuidado para que se evite a contaminação do lençol freático.
Nessas condições deverá ser severamente evitada em regiões cársticas a instalação de empreendimentos geradores de riscos de contaminação do solo e da água subterrânea, como indústrias utilizadoras ou produtoras de produtos químicos perigosos, disposição de lixo ou resíduos contaminantes no meio rural e urbano, depósitos vários de substâncias contaminantes.
É nessa cidade do BURACO DE CAJAMAR que uma empresa do grupo Multilixo pretende instalar um aterro sanitário para resíduos domiciliares e públicos, e um aterro para resíduos industriais.
Quarenta e cinco cidades de São Paulo são alvos da empresa privada Ecoparque Logis S.A., do grupo Multilixo, para a destinação final de resíduos sólidos domiciliares e resíduos industriais, gerados nesses municípios, e enterrados na cidade de Cajamar.
Cajamar é um município na Região Metropolitana da cidade de São Paulo, microrregião de Osasco, distante 29 quilômetros da capital estadual. Sua população foi recenseada conforme dados do IBGE de 2022 com 92.689 habitantes.
Em 21/09/2023 às 21h51, o grupo MULTILIXO por meio de sua empresa Ecoparque Logis Ltda. CNPJ no. 51.997.312/0001-52 abriu na CETESB o Processo CETESB.073666/2023-70.
Ecoparque Logis Ltda. fez a abertura do processo de licenciamento ambiental de aterro sanitário e aterro industrial na Companhia Ambiental do Estado de São Paulo – CETESB tendo anexada a documentação para o Termo de Referência dos empreendimentos. A única pessoa jurídica sócia da Ecoparque Logis Ltda. é a DFSS Empreendimentos e Participações Ltda., ambas integrantes do grupo MULTILIXO.
A área onde pretende a Ecoparque Logis Ltda instalar os dois aterros (resíduos domiciliares e industriais) está localizada na Estrada João Felix Domingues (Olaria), s/nº, Bairro Empresarial dos Eucaliptos, Cajamar/SP. (Coordenadas Latidude 23°19’58.97″S e Longitude 46°53’28.08″O).
O volume de resíduos previsto no pedido de licenciamento ambiental do aterro sanitário/industrial denominado ECOPARQUE LOGIS, da Ecoparque Logis Ltda, do Grupo MULTILIXO, é de 1.700 toneladas por dia, ou ainda 51.000 ton/mês, ou 612.000 ton/ano, que no prazo de 15 anos (previsto no termo de referência) serão de 9.180.000 toneladas de resíduos sólidos urbanos, domiciliares, de grandes geradores, públicos e industriais enterradas no período de vida útil do empreendimento na Cidade do “Buraco de Cajamar”.